Ex-presidente Castillo recebe sentença por tentativa de golpe no Peru
A Justiça peruana emitirá, nesta quinta-feira (27), a sentença no julgamento contra o ex-presidente Pedro Castillo pelos crimes de rebelião, abuso de autoridade e perturbação da ordem pública após sua tentativa fracassada de fechar o Congresso em 2022.
O esquerdista Castillo, um professor de escola rural e sindicalista que venceu a eleição em 2021, contrariando todas as expectativas, foi o primeiro presidente do Peru sem vínculos com as elites.
Mas seu governo, que gerou esperanças de reformas em um país com um terço da população na pobreza, fracassou, com acusações de corrupção em meio à sua tentativa frustrada de dissolver o Congresso para evitar um impeachment.
A decisão encerrará oito meses de audiências contra Castillo e outros sete processados, incluindo a ex-primeira-ministra Betssy Chávez, asilada desde 3 de novembro na embaixada do México em Lima.
A Sala Penal Especial da Suprema Corte, presidida pelo juiz José Neyra, iniciou a audiência às 9h20 (11h20 de Brasília).
Castillo assiste à leitura da sentença junto com seu advogado de defesa. Estima-se que a audiência dure pelo menos três horas.
O Ministério Público pediu 34 anos de prisão para Castillo e 25 anos para Betssy Chávez.
Castillo, de 56 anos, cumpre há quase três anos uma ordem judicial de prisão preventiva na penitenciária exclusiva para ex-presidentes localizada dentro de uma base policial na zona leste de Lima.
Além de Castillo, o Peru tem outros três ex-presidentes presos: Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Martín Vizcarra.
- "Não vim pedir clemência" -
A audiência ocorre em uma sala anexa a essa prisão. O julgamento tem sido realizado neste local desde 4 de março.
Cerca de vinte apoiadores do ex-presidente se posicionaram com cartazes na entrada do centro penitenciário.
"Estamos sofrendo por nosso presidente porque ele não roubou nenhum sol, um inocente está preso aqui, pedimos justiça", disse à AFP Julia Buendía, de 54 anos, referindo-se à unidade monetária do Peru.
"Não vim pedir clemência, muito menos absolvição do meu caso, apenas peço justiça", declarou Castillo em suas alegações finais perante o tribunal na última sexta-feira.
Desde o início do julgamento, Castillo afirma ser "um presidente sequestrado" vítima de um "golpe do Congresso".
Segundo o promotor Edward Casaverde, Castillo tentou realizar um golpe de Estado ao anunciar, em 7 de dezembro, a dissolução do Parlamento, a intervenção do Judiciário e a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Naquele dia, o Congresso iria debater sua possível destituição por acusações de corrupção.
Sem o apoio do comando militar, ele acabou sofrendo um impeachment com votos de bancadas de esquerda e direita e foi preso pela polícia quando seguia com sua família para a embaixada do México em Lima. Sua esposa e seus dois filhos vivem desde então asilados neste país.
Sua queda provocou a ascensão ao poder de sua vice-presidente Dina Boluarte e desencadeou violentos protestos que resultaram em mais de 50 civis mortos devido à repressão das forças do Estado.
Desde 2016, o país andino teve sete presidentes: três destituídos pelo Congresso, incluindo Boluarte, dois que renunciaram antes de sofrerem o mesmo destino, um que completou seu mandato interino e agora José Jerí.
D.Riva--GdR