Giornale Roma - Leão XIV pede à Turquia um papel 'estabilizador' em um mundo 'conflituoso'

Leão XIV pede à Turquia um papel 'estabilizador' em um mundo 'conflituoso'
Leão XIV pede à Turquia um papel 'estabilizador' em um mundo 'conflituoso' / foto: Ozan KOSE - AFP

Leão XIV pede à Turquia um papel 'estabilizador' em um mundo 'conflituoso'

O papa Leão XIV instou, nesta quinta-feira (27), a Turquia a desempenhar um papel "estabilizador" em um contexto mundial "fortemente conflituoso", no início da primeira viagem ao exterior de seu pontificado, que também o levará ao Líbano.

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O papa, que chegou a Ancara pouco depois do meio-dia, foi recebido no palácio presidencial pelo chefe de Estado, Recep Tayyip Erdogan, com a execução dos hinos do Vaticano e da Turquia e salvas de canhão.

"Senhor presidente [Erdogan], que a Turquia seja um fator de estabilidade e aproximação entre os povos, a serviço de uma paz justa e duradoura", afirmou o pontífice.

A Turquia é um ator de destaque na volátil geopolítica do Oriente Médio e também atua nas negociações entre Ucrânia e Rússia para pôr fim à guerra iniciada com a invasão russa, em fevereiro de 2022.

Leão XIV elogiou o país como "uma ponte entre Oriente e Ocidente, entre Ásia e Europa e uma encruzilhada de culturas e religiões".

Mas também advertiu que a homogeneização do país, com apenas 0,1% de cristãos entre seus 86 milhões de habitantes, "representaria um empobrecimento".

Erdogan, seu anfitrião, assegurou que a Turquia não permite a "discriminação" e que não vê "as diferenças culturais, religiosas e étnicas como uma fonte de divisão, mas de enriquecimento".

"A Turquia, onde 99% dos cidadãos são muçulmanos, incentiva o respeito a todas as confissões, também às comunidades cristãs", assegurou.

- "Bonita mensagem para o mundo" -

A bordo do avião que o levou de Roma para Ancara, o pontífice explicou aos 80 jornalistas que o acompanhavam sua impaciência por esta viagem, que seu antecessor, o papa Francisco, falecido em maio, devia realizar.

"Esperava esta viagem com muita expectativa pelo que significa para os cristãos, embora também seja uma bonita mensagem para o mundo inteiro", declarou.

Nos últimos anos, o status laico do país tem sido questionado pelo aumento do nacionalismo religioso e pela politização de símbolos como a basílica de Santa Sofia, em Istambul, transformada em mesquita em 2020.

Apesar disso, o Vaticano busca manter o diálogo com Ancara, que considera fundamental para a paz na região.

A Santa Sé reconhece o esforço feito pela Turquia para acolher em seu território mais de 2,5 milhões de refugiados, em sua grande maioria sírios, segundo as autoridades.

Nesse sentido, o líder do 1,4 bilhão de católicos seguiu os passos de seu antecessor, Francisco, ao criticar recentemente o tratamento "extremamente desrespeitoso" dirigido aos migrantes pela administração americana de Donald Trump.

- "Promover a unidade" -

Após este dia de caráter político, a visita terá um tom mais religioso na sexta-feira, com o deslocamento do pontífice para Iznik, a antiga Niceia.

Ali será celebrado o 1700º aniversário do primeiro concílio ecumênico, que reuniu no ano 325 cerca de 300 bispos do Império Romano, um momento considerado fundacional para o cristianismo.

O papa participará de uma oração ecumênica na margem do lago Iznik junto ao patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, o interlocutor privilegiado do Vaticano em suas relações com os cristãos ortodoxos.

"Bartolomeu e eu já nos encontramos em várias ocasiões, acredito que será uma ocasião excepcional para promover a unidade entre todos os cristãos", declarou Leão XIV na terça-feira.

Os católicos e os cristãos ortodoxos estão divididos desde o cisma do ano 1054. Os primeiros reconhecem a autoridade universal do papa como chefe da Igreja, enquanto os segundos estão organizados em Igrejas autocéfalas.

O mundo ortodoxo parece hoje mais fragmentado do que nunca, já que a guerra na Ucrânia acelerou a ruptura entre os patriarcados de Moscou e Constantinopla.

Depois de Paulo VI (1967), João Paulo II (1979), Bento XVI (2006) e Francisco (2014), Leão XIV é o quinto papa a visitar a Turquia.

De domingo até a terça-feira, ele continuará sua viagem com uma visita ao Líbano, mergulhado em uma crise econômica e política desde 2019 e bombardeado regularmente por Israel nos últimos dias, apesar do cessar-fogo.

P.Sartori--GdR