

Papa Leão XIV reza com rei Charles III em cerimônia inédita desde o cisma anglicano
O rei Charles III tornou-se, nesta quinta-feira (23), o primeiro monarca britânico a rezar publicamente com um papa desde o cisma anglicano, há cinco séculos, durante uma celebração presidida por Leão XIV na Capela Sistina.
A cerimônia combinou tradições católicas e anglicanas e marca uma nova aproximação entre as duas Igrejas. O serviço, que durou quase 30 minutos, foi inédito desde o nascimento do anglicanismo em 1534, quando o rei Henrique VIII rompeu com Roma.
O papa Leão XIV e o arcebispo de York, Stephen Cottrell, presidiram a celebração sob os famosos afrescos de Michelangelo, na presença de prelados católicos e anglicanos, assim como de líderes políticos e diplomatas.
O coral da Capela Sistina acompanhou o coral da Capela de São Jorge de Windsor e o tema central da oração foi a proteção da natureza, um sinal da convergência entre as duas igrejas em questões ambientais.
Minutos antes, o papa Leão XIV recebeu o monarca de 76 anos, que atua como governador supremo da Igreja da Inglaterra, em uma audiência privada.
O pontífice foi nomeado chefe da Igreja Católica em maio, após a morte de seu antecessor, Francisco.
Charles III, acompanhado de sua esposa Camilla, falou com o papa em inglês em um ambiente cordial e trocaram presentes, de acordo com imagens divulgadas pelo Vaticano.
A visita ocorre em um momento delicado para Charles III, quando seu irmão Andrew enfrenta novas e comprometedoras revelações no caso do criminoso sexual Jeffrey Epstein.
- "Acontecimento histórico" -
A religião anglicana nasceu em 1534, em uma cisão causada pelo rei Henrique VIII da Inglaterra, devido à recusa do papa em anular seu casamento com Catarina de Aragão.
Em 1961, a mãe de Charles III, Elizabeth II, tornou-se a primeira monarca britânica a visitar o Vaticano desde o cisma entre católicos e anglicanos.
"É um evento histórico", disse William Gibson, professor de História Eclesiástica na Universidade Oxford Brookes, à AFP.
Gibson observou que o soberano britânico é obrigado por lei a ser protestante.
"De 1536 a 1914, não houve relações diplomáticas oficiais entre o Reino Unido e a Santa Sé", explicou o professor universitário.
O Reino Unido só abriu uma embaixada no Vaticano em 1982.
Em 2013, a lei foi levemente flexibilizada para permitir que membros da família real que se casassem com católicos mantivessem seu lugar na ordem de sucessão, explicou Gibson. Até então, se o fizessem, teriam que renunciar a qualquer aspiração ao trono.
Ao contrário da Igreja Católica romana, a Igreja Anglicana ordena mulheres e permite que padres se casem.
Pela primeira vez em sua história, a Igreja Anglicana acaba de nomear uma mulher como sua autoridade máxima: Sarah Mullally, de 63 anos, mãe de dois filhos, que assumirá suas funções oficiais em janeiro de 2026.
- Vinte milhões de batizados -
Charles III e Camilla também participarão de outro serviço religioso nesta quinta-feira na Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma.
Nesta cerimônia, o rei será nomeado "confrade real"; um assento especial foi criado para o monarca para este cargo. Ele permanecerá na basílica e poderá ser usado no futuro por seus sucessores ao trono britânico.
O casal real se encontrou em caráter particular com o antecessor de Leão XIV, o papa Francisco, em 9 de abril, 12 dias antes da morte do pontífice argentino.
Charles III foi representado por seu filho William no funeral do jesuíta argentino e, em seguida, por seu irmão, o príncipe Edward, na missa de entronização de Leão XIV em 18 de maio.
A Igreja da Inglaterra, em declínio, tem cerca de 20 milhões de fiéis batizados, mas calcula que seus fiéis praticantes são pouco menos de um milhão, segundo estatísticas de 2022.
A.Fumagalli--GdR