Sacrifício de rebanho bovino reacende revolta do setor agrícola na França
O sacrifício de um rebanho bovino no sul da França, após a detecção de um caso positivo de dermatose nodular, provocou confrontos entre agentes das forças de ordem e agricultores que protestavam contra esta medida.
Os protestos ocorrem em um contexto de revolta no setor agrícola, alimentada por outros fatores, entre eles o acordo comercial negociado entre a União Europeia e os países do Mercosul.
Centenas de agricultores estavam reunidos desde a manhã de quarta-feira em uma exploração agrícola em Les Bordes-sur-Arize, localidade próxima à fronteira com a Espanha, para evitar o sacrifício de 207 vacas.
Na noite de quinta-feira, gendarmes lançaram bombas de gás lacrimogêneo para assumir o controle da fazenda e permitir o acesso ao local de veterinários, que começaram a sacrificar os animais nesta sexta-feira (12).
A dermatose nodular, uma infecção viral transmitida por picadas de insetos, é comum no norte da África. Causa bolhas e reduz a produção de leite nos bovinos.
Embora seja inofensiva para o ser humano, a doença costuma resultar em restrições comerciais e importantes prejuízos econômicos.
Para evitar sua propagação, a França ordenou o sacrifício de todo o rebanho quando um caso é detectado, enquanto restringe a vacinação de animais a determinadas regiões.
"Para salvar todo o setor, o sacrifício é a única solução", disse, nesta sexta, a ministra da Agricultura, Annie Genevard, diante das críticas à estratégia do governo.
Os sindicatos estão divididos. A Coordenação Rural e a Confederação Camponesa, respectivamente a segunda e a terceira centrais do setor, tentam se opor aos sacrifícios e defendem uma vacinação preventiva generalizada.
O principal sindicato, FNSEA, apoia o protocolo das autoridades, temendo que uma vacinação generalizada prive a França de seu status de país livre da doença e, portanto, de sua capacidade de exportar bovinos vivos durante meses.
Os protestos em Les Bordes-sur-Arize ocorrem às vésperas de uma manifestação contra o acordo UE-Mercosul, prevista para 18 de dezembro, em Bruxelas, onde são esperados até "10.000 manifestantes", segundo os organizadores, muitos deles originários da França.
A Comissão Europeia, braço executivo da UE, espera que os 27 Estados-membros autorizem o acordo entre 16 e 19 de dezembro, em Bruxelas. No dia seguinte, está prevista a assinatura do tratado entre os dois blocos regionais, em Foz do Iguaçu, Paraná, segundo uma fonte europeia.
G.Vitali--GdR